bala.nça
Entro para ver o fauno de Brecheret mas permaneço, atraído pelo frescor das árvores. O sol que permeia as copas me faz notar que a capa do livro que carrego é verde e não preta. La Tía Julia y El Escribidor me acompanha desde que li o prólogo e o trecho de Salvador Elizondo (El grafógrafo), o que já faz mais de dois anos.
Talvez, para ler, seja necessário o mesmo tempo que Mario Vargas Llosa conta, no prólogo, ter demorado para escrever, com as mesmas interrupções longas e revisitando o livro em momentos diferentes. Se assim for, tenho só mais um ano e meio para ler o resto do livro.
Com o livro verde em mãos, sento em uma balança dentro de um cercado de areia com outros brinquedos. A vontade de balançar é grande, mas a vergonha me impede. A balança (ou o fauno!) percebe a timidez e me derruba para trás, consigo segurar as correntes com a ponta dos dedos e pronto, estou balançando!
Balanço como uma criança, o corpo esticado e os cabelos raspando o chão, vendo tudo invertido, sem medo de cair e me sujar na areia, ou no pior dos casos quebrar o pescoço.
Um apito interrompe a aventura.
De longe a figura fardada acena me pede para descer e eu aceno de volta perguntando o motivo. Ele então resolve pacientemente contornar o cercado de areia para se aproximar, e explicar à criança frustrada:
- "são as normas do parque"
- "que normas?"
- "só crianças podem balançar!"
- "porquê?"
- "porque a corrente só suporta 40 Kg, mais que isso desgasta."
- "uhum"