8.2.07

la.go

Hoje, primeiro dia de um novo ano, percebo que tudo começou no lago. Sim, o mesmo lago de Ana, o tomamos emprestado no início e depois de algum tempo ele passou a ser nosso também. Aliás ele deve ser de muita gente sem que o saibamos, nós é que temos esta mania de julgar que tudo é exclusivo. Nossas visitas ao lago criaram em torno de nós uma esfera lúdica e intimista, e nela viviamos outro tempo, outra realidade. Conhecemos tudo o que o outro não era, e neste processo invertido permanecemos o quanto foi possível. Vivemos uma sintonia intensa e consciente de si mesma, tempo mágico, que me arrebatou de lugar nenhum para dentro dela. A amo por isso, e por todo o resto. O lago nunca secou e sempre esteve vivo, as visitas é que diminuíram. Talvez tenha ocorrido o mesmo que se dá quando caímos nos encantos do perfume das damas da noite, e maravilhados aproximamos o nariz, preparamos o peito, para então absorver a maior quantidade possível do perfume encantador desta flor. Porém, muito pouco ou nada se capta além do ar inodoro, é como se as pequenas flores, conscientes de nossa gula por seu delicado perfume, sugassem de volta a seus ramos toda a fragrância antes exalada, impedindo o deleite de nossos narizes mal educados. Ser algum tem o direito de encher o peito com tão delicado perfume, este deve ser apreciado com tempo, sem pressa, com respeito, paciência e em pequenas doses. Erramos, ao estufar o peito e inspirar com força o ar presente na bolha que nos isolava do mundo, além de diminuí-la e trazer o mundo para mais perto, a decepção de não ser capaz de sentir todo o perfume do entardecer no lago, ameaçava estourar esta bolha, frágil como qualquer outra, feita de água e sabão. O lugar comum: “eterno enquanto dure”, hoje, para mim, assume nova forma, afastando-se da idéia de incerteza pela qual qualquer relação é permeada, uma vez que o futuro permanece alheio mesmo ao maior de nossos desejos, e aproxima-se da verdadeira beleza do amor, através da simples possibilidade de a eternidade caber em algo finito.

ma.tur.idade

Esta que deve ser uma das últimas frescas brisas deste verão, chega acompanhada da realidade penetrante que me indispõe para qualquer coisa, apesar da tarde ensolarada.
Sinto-me mais forte, é verdade, mas a que preço?
Anseio por uma maturidade que nunca chega e tenho dúvidas sobre sua vinda
A vejo refletida por ai, mas não sei se alguém realmente a possui, talvez simplesmente habite os seres por pequenos períodos, devolvendo-os depois a amarga e constante aflição de ter que teimar contra a vida.