3.10.06

ou.tros

Apesar de não acreditar em regresso evolutivo, admito que experimentando certas situações no convívio com outros humanos, tenho a falsa impressão de que estamos regredindo.
Muito me assusta a percepção de que somos todos indivíduos, com diferentes idéias, costumes, preferências, porém, todos com a mesma postura: imparcialidade.
A individualidade e o respeito às diferenças estão em voga e permeiam toda a estrutura social, tanto que o mercado também já interage com estes temas, embora porcamente, como ocorre com tudo em que toca. Na cultura atual, busca-se encontrar o próprio espaço, a própria forma de diferenciar-se e conquistar respeito. Assim sendo, o caminho padrão percorrido está focado no eu, e isso não só é aceito como é visto com bons olhos.
Há uma imersão no comportamento de atenção exclusiva às necessidades próprias e individuais, na realização de desejos imediatos e fugazes, na despreocupação com o conteúdo. Ironicamente, apesar da crescente e fútil preocupação em parecer, diminui proporcionalmente a preocupação e o interesse pela forma de representação do eu, do que se é de fato – para si e para os outros.
Nos distanciamos do outro (do externo), e perseguimos a diferenciação própria, esperando que estes outros entendam, respeitem, aceitem, tolerem, esta que é a única forma encontrada de creditar algum valor ao eu, que no mínimo, recebe atenção por ser diferente, independentemente do valor desta diferença.
Ocupados com a criação de nossa diferenciação, não nos preocupamos em entender, respeitar e aceitar a diferença dos outros. Exigimos o que não somos capazes de oferecer.